domingo, junho 18, 2006

Retrato poético de Reginaldo Marinho

Jaci Bezerra

Dentro do olho da câmara
há outro olho aceso.
Esse olho, brasa e chama
solto e desperto, inflama
o mundo e o deixa preso.

A mão, conduzindo a câmara,
é humana e terrestre,
está além da chama
que além do olho inflama
a luz de que se veste.

A câmara, na paisagem,
é instrumento do olho
e capta a luz selvagem,
ou mansa, da paisagem
nos mais íntimos refolhos.

E só se disparada
ao olho nu revela
a luz, brisa fisgada
de íntimas janelas;
não só precisa, bela.


O alfabeto do homem
é o mundo circundante;
a luz que o olho consome
para nutrir a fome
de um só e eterno instante.

Ao escrever com o vento
e com a luz madura
não guarda o homem o intento
de transformar em invento
o que o olho procura.

Sempre é exata a paisagem
e precisa a criatura
nessa luz e linguagem
que o homem, na paisagem,
diariamente apura.

Sempre é eterna a imagem
que o homem captura;
rói, o tempo, a paisagem
porém não rói a imagem
pela câmara segura.